O quanto você vale no Instagram? 📱
#33 - validação, comparação, ausências e corridas intermináveis por likes. quem nunca?
Você já postou alguma coisa nos Stories hoje? E no feed? Como estão as suas métricas de sucesso? Há quem diga que o Instagram é o novo Tinder, basta dar uma olhada na quantidade de reações de foguinho que você recebeu para confirmar. Olhe nome por nome, curtida por curtida, embora eu tenha certeza de que você já fez isso em algum momento depois de clicar em ‘publicar’. Odeio admitir, mas eu faço também - bem mais do que gostaria.
Aí você olha e descobre que seus curtidores assíduos passaram batido pelo seu post mais recente. Nos Stories, a lista de visualizações que não converteram em curtidas ou reações te cutuca na ferida. Tanto esforço para essa selfie montadinha que você tinha certeza que ia bombar, no rolê passou a maior vergonha para dar o close perfeito, do jeitinho que só humans of late capitalism sabem fazer - e no fim das contas flopou.
Você pensa em apagar, afinal de contas se flopar nunca aconteceu. E em seguida: o que será que há de errado com essa foto? Estou horrível? Será que passei dos limites na biscoitagem? Será que esse é o recado silencioso dos meus seguidores para eu dar aquela famosa segurada? Qual é a frequência ideal que me equilibraria entre a persona digital misteriosa-e-ocupada e a que se garante para receber essa viciante recompensa digital em doses constantes?
Mas para todas as perguntas a resposta é só uma: você tá valendo pouco no Instagram - e se tá valendo pouco na tela, tá valendo pouco na vida real.
Você passa para os stories alheios. A ex-colega de escola foi pedida em casamento em uma idílica cidade do Mediterrâneo; aquele conhecido da faculdade foi promovido a diretor de contas em uma agência famosa; a amiga de infância está mochilando pelo sudeste asiático enquanto você participa de mais uma reunião que podia ser um e-mail. A angústia te consome: essa barra invisível e inalcançável continua acima da sua cabeça, e não há como tocá-la. Mas eles tocaram. Tá todo mundo tocando a tal da barra, aparentemente, menos você.
A gente esquece que esses posts são míseros recortes da vida. Uma fração ínfima, minúscula, mas que conta muito mais que o todo que não conhecemos. Via de regra, tá todo mundo feliz, transando, prosperando, viajando - é um pacto coletivo em que o parecer impera sobre o ser, a gente aceita silenciosamente e finge que tá todo mundo sendo e não parecendo mesmo assim, a gente finge tanto que acabamos por acreditar no fingimento.
A angústia começa a gerar sintomas físicos, um mal estar na boca do estômago, mas por algum motivo você continua ali. Sextou, né? Um desfile de looks belíssimos e drinks bonitos e pratos instagramáveis e boomerangs do pôr-do-sol na estrada e vídeos de gente bêbada no Melhores Amigos pipocando na sua tela, e você no sofá assistindo a uma série repetida na Netflix. Só Deus sabe o quanto você esperou (e precisou) a semana toda por esse momento de paz - mas, a partir do momento em que ele passa pelo crivo cruel dos recortes do outro, se torna completamente esvaziado de sentido.
A verdade é que a gente se mantém ali se alimentando dessa vitrine de vidas alheias porque se tornou uma forma automatizada de endereçar uma sensação de insuficiência que é muito mais complexa, um sintoma contagioso desse espetáculo do capitalismo tardio. Como boa cria do tio Zuckerberg e seu time de megazords, o Instagram também é desenhado - e constantemente aprimorado - para manter seus usuários nesse perpétuo estado de susceptibilidade à carência, à insegurança - porque, no fim das contas, é na carência que somos mais lucrativos. A insegurança vende. Nele, essa falta sintomática dos nossos tempos ganha um revestimento neurológico que a justifica e a sustenta, um tecido comportamental que nos mantém entretidos em busca de uma recompensa: a sensação eletrizante que nos acomete quando nossa vitrine é reconhecida entre tantas outras, essa sensação que nem sabemos nomear.
Mas e se essa recompensa nunca chegar - ou nem existir de fato?
Você já fez algum período de “detox” das redes sociais? Odeio essa palavra, mas por falta de outra melhor, vamos assim mesmo. Eu já fiz alguns e sempre fico com a sensação de que ficar longe da rolação de tela é um pouco como estar com as lentes erradas e, de repente, ajustar o grau. Com as lentes ajustadas, o bem-estar ganha outro significado e o prazer momentâneo da validação passa a ser apenas isto que é: temporário. Não me entenda mal: não vim aqui vilanizar a internet, mas não podemos negar que ela é uma ilustração muito importante de como estamos habituados a preencher faltas com prazeres instantâneos.
Nesse sentido, acho que as pausas vêm como uma ferramenta que nos ajuda a criar um distanciamento para enxergar, de fora, o quanto esse famoso vício em dopamina (quem não?) está impactando em nossas perspectivas, olhares, em nossos percursos de vida diária.
Eu, que amo fotografar, tenho perdido um pouco do gosto pela prática - às vezes sinto que todas as minhas fotos já são feitas pela lente do Instagram, otimizadas para o mobile first. Da última vez que fiquei longe das redes, no início do ano passado, criei o costume de tirar pelo menos uma foto por dia de algo corriqueiro - a xícara suja de café na bancada, uma calçada com azulejos engraçados, qualquer coisa. Até hoje, são minhas fotos favoritas, nada instagramáveis, mas tiradas despretensiosamente apenas para guardar o momento.
Confesso: há algo muito sedutor na ideia de abandonar as redes sociais completamente e flerto com essa possibilidade com uma certa frequência. Tenho uma tendência a ser meio oito-ou-oitenta com as coisas. Mas a verdade é que, apesar de todos os pesares, gosto de muitos conteúdos que estão na rolagem de tela do meu feed; tem muita gente disposta a mudar a internet por aí. Talvez o caminho, então, esteja em diminuir e desafogar esse uso com mais perenidade, ao invés de me manter nessa montanha-russa de maratona-detox-maratona-detox. O famoso equilíbrio, quem não quer, né?
Qual é a sua relação com as redes? Você já pensou em abandoná-las? Mantém algum hábito ou recurso para te ajudar na jornada de colocar limites nesse uso desenfreado? Me conta!
Um beijo,
Mari
A Carol Sandler e a Gaía Passarelli, donas de duas newsletters que amo por aqui, já falaram sobre o Instagram também.
O podcast Querida Internet, da Contente, tá sempre com convidados belíssimos e debates bons demais de ouvir.
O excesso de prazer pode estar acabando com a nossa felicidade.
Quem quer ver alguém triste na rede social?
Criando conexão ou apenas conectadas?
#segundou e boa semana!
Neste momento estou num processo de repensar como uso o Instagram. Já usei de várias maneiras ao longo do tempo, inclusive para divulgar meu peixe, mas neste momento estou pensando em cuidar mais das conexões que tenho com as pessoas e com artistas cujo trabalho gosto de acompanhar. Quero retomar o social da rede e usá-la para cuidar da vida que acontece fora das telas, mas confesso que ainda não encontrei um ritmo que me seja harmônico 😅
Bem, que tá ler a opinião de um pária das redes sociais? Um eremita nas montanhas distantes das redes sociais. A ovelha negra da família global das redes sociais. Devo ser um dos raros, num raio de quilómetros, a não ter rede social. Minto, em dezembro de 2022 criei uma conta no twitter para um objetivo muito específico, e mesmo nesta conta não tenho contato virtual com amigos ou familiares, portanto ainda no anonimato virtual. Sou o tipo de cara que o Zuckerberg gostaria de exterminar da face da terra, rs. Ah, não sou maratonista de séries tb, muito menos um esporádico apreciador de séries. Sou do tipo que gosta de histórias com início, meio e fim. Uma coisa rara em séries Netflixcianas e afins. Prefiro filmes de cinema em que devemos nos preparar fisicamente e psicologicamente pra curtir uma apresentação artística e não permitir que mensagens de whatsapp atrapalhem a concentração de apreciar um filme. Sim, utilizo o whatsapp, não sou 100% pária, rs, talvez 90%. Esse distanciamento me faz ver as curtidas nas mídias sociais, de forma peculiar. Na verdade me entristece, ver pessoas que amo e também as que mal conheço, olhando fotos num app e em função destas fotos, curtir ou não a tal postagem. Difícil entender como através de uma foto consegue-se imaginar o que na vida da pessoa envolvida nesta foto. Imaginar o que se passa pela mente de quem posta a foto, ou mesmo de quem a curte. Na minha visão pequena, particular e não definitiva, me entristece constatar que pessoas que amo, não entendem a superficialidade das redes sociais ou vídeos de 30 segundos com dancinhas que nem saberia como categorizar. Tudo é tão raso, superficial, que, na minha opinião, não valeria a pena perder 5 segundos nesta atividade de analisar o que curtir e o que não curtir. Me assusta observar que pessoas opinam sobre a vida de outras pessoas ou tentam demonstrar suas próprias vidas através de fotos num app, que é claro, não representam nem pequena parte da complexidade interior e do universo interior que é DE FATO cada uma das pessoas. Me assusta observar como a vida das outras pessoas assume uma importância competitiva com a própria vida de quem navega pela mídia social. Tempo perdido, energia emocional perdida e talvez mais estímulo de comportamentos auto destrutivos. Detox? Huuummm acho que não seria detox, mas sim cada um contextualizar melhor as mídias sociais nas suas próprias vidas. É útil? Minha vida melhora ou piora? O que vejo e concluo através de uma foto realmente faz sentido pra mim? Há verdade em minhas conclusões? Uma foto mostra a verdade interior de uma pessoa? Se não mostra, por que curtir ou postar? Não tenho algo mais pra realizar com minha alma além de correr com o dedo na tela de um celular achando que entendo que por trás da postagem tem um ser humano cheio de características únicas? Qual é a verdade de tudo isto em minha vida? Acho que esta contextualização e questionamento são muito úteis! Diria que esta contextualização proporciona mais tempo pra dedicar àquilo que é importante e verdadeiro em nossas vidas. Ajuda também na decisão do que é importante tanto para a alma quanto para o que se assiste e se ouve em nossa vida cotidiana. Dramática minha opinião? Pode ser, mas uma coisa que não pode ser e que passou a ser um fato, são as mídias sociais na maioria das pessoas que as segue. Um pequeno post pra pincelar um rascunho da minha opinião..rs…grande abraço.