(In)segurança, clickbaits e parmegianas
#12 - às vezes, é tudo uma questão de saber a hora de se retirar. (a gente geralmente não sabe)
Oi, como você tá?
Tive uma semana bem ruim. Até o presente momento (vulgo: domingo à noite) pensei que essa newsletter não ia sair. Faltou energia pra escrever, faltaram ideias. Na verdade, ainda não sei o que vai sair ao final desse texto. Acho que faz parte. Não importa agora. Acima de tudo, faltou segurança pra sentar aqui na frente do teclado e digitar, segurança de que sairia algo digno de apertar o botão de ‘publicar’, esse botãozinho azul que tá aqui olhando para mim inquisitivamente neste mesmo segundo.
Segurança. Às vezes acho essa palavra uma grande bobagem, usada sem moderação em conteúdos cretinos de coaches e terapeutas sem diploma na área. Outro dia recebi um e-mail marketing (em cujo remetente não me lembro de ter me inscrito) com o título: Vença a sua insegurança. No mesmo dia, ou não, fui almoçar em um restaurante perto de casa e pedi um filé à parmegiana. O garçom me perguntou se eu queria com molho branco ou molho vermelho. Parmegiana não é sempre com molho vermelho? Pensei isso, mas não perguntei. A resposta parecia óbvia, mas não soube responder com certeza. E se o molho branco fosse melhor? Escolhi o branco por medo de errar e ele era farinhento. Voltei para casa me sentindo péssima. Recuperei o e-mail marketing ridículo na pasta do spam, olhei para ele uma segunda vez, e me senti ainda pior por isso. Como vencer a insegurança se eu não me sinto segura nem mesmo para escolher um bendito molho em cima de um frango empanado? Como vencer uma coisa que às vezes parece que já nos venceu?
Ou melhor: como vencer uma coisa que às vezes parece que já nos venceu, porque somos falhos e humanos e a insegurança simplesmente faz parte do pacote?
Nesse feriado eu tava me sentindo a própria derrota, e no fim não tive disposição pra fazer nada do que realmente queria, incluindo: carnaval de rua, assistir Medida Provisória no cinema, ver a exposição nova do CCBB. (Para esta última eu confesso que faltou o ingresso também.) Fui ao aniversário de uma amiga, fui a um encontro de família. Em uma das ocasiões, bebi para me sentir mais apta a conversar. Na outra, estava sóbria, e me senti um alien o tempo todo, incapaz de formular frases coerentes e interessantes. Não vem ao caso qual foi qual. No Instagram, todo mundo fazendo viagens incríveis, mudanças, pedidos de casamento, desfilando no sambódromo, e eu largada no sofá. Nessas horas parece que a minha caminhada na vida tá horrivelmente longe de ser suficiente. As conquistas pessoais e profissionais, a saúde em ordem, a criatividade, os planos em movimento - tudo bate numa parede de concreto, grande e sólida, e escorrega pelo chão.
Às vezes, quando a insegurança tá nessas de levar a melhor, eu sinto que tudo que tenho a oferecer ainda é muito pouco perto de tudo, e que sou apenas uma criança mimada rodeada de adultos sábios. Parece que todo mundo tá por dentro de um grande segredo que só eu não sei.
Eu contei sobre essa sensação para um amigo hoje. Ele disse, apenas: nossa, eu sinto exatamente a mesma coisa. No fim das contas, eu já sabia, mas precisava escutar. Precisava que a minha insegurança tivesse um lugar para pertencer. Acho que ela também é um sinal para momentos em que simplesmente podemos (e devemos) nos retirar: de relações que nos apequenam, de ambientes que nos pressionam, da própria internet. Já fiz uma longa pausa de redes sociais há uns meses e tenho pensado em fazer outra. Às vezes, a insegurança vem de um lugar nosso que precisa de escuta e olhar atento - mas às vezes também acho que não há mal algum em bater em retirada das coisas, pessoas e lugares que a cutucam.
Pra essa semana, meu mantra será: a caminhada é exclusivamente minha, e o único parâmetro de comparação sou eu.
(E o parmegiana com molho branco, que já sei que é ruim.)
Um beijo,
Mari
Dicas Que Ninguém Pediu (Mas Que Eu Dou Mesmo Assim)
✦ Tô lendo Segunda casa, da Rachel Cusk, e nada mais de ruim existe na humanidade! Sou fã de carteirinha da trilogia Esboço, Trânsito e Mérito, já publicada no Brasil pela Todavia, e tô amando esse também. Tem tudo que a gente gosta: mulheres pegando fogo, monólogos intensos, relações complicadas e arte. Recomendo!
✦ Eu também entrei no hype e assisti Abercrombie & Fitch: Ascensão e Queda, documentário lançado na Netflix sobre a problemática marca que foi o hit dos anos 2000 - e que prosperou numa cultura de exclusão.
✦ Ainda na dona Netflix, também assisti a série documental Segredos e Crimes de Jimmy Savile, o DJ e apresentador britânico que abusou de crianças e adultos ao longo de quase meio século. Haja estômago para engolir! Não acho que o formato do documentário foi o ideal, mas mesmo assim vale a indicação pra quem gosta dessas séries investigativas. São só dois episódios :)
✦ Achado da semana: o perfil oficial da Blue Note Records no Spotify, com um monte de playlists maravilhosas de jazz pra quem gosta. Tem clássicos, contemporâneos, para todos os moods do dia ♥
✦ Para quem é da terrinha São Paulo, também venho indicar as pizzas do icônico Guarita Bar, que só provei pela primeira vez na semana passada - um verdadeiro crime! O ambiente é uma atração à parte, todo no escurinho e com rocks ótimos na caixa de som. A carta de drinks é zero convencional e portanto perfeita! Quero voltar um dia só pra isso. As pizzas são individuais, com massa leve e sabores autorais. Recomendo a minha escolha (zero insegurança nessa!) de olhos fechados: figo, mussarela de búfala, presunto cru, mel e balsâmico.
E por hoje é só! :)
Amiga, não sei direito o motivo, mas essa edição da news me lembrou o livro "Existo, existo, existo", da Maggie O´Farrell
Eu amei segunda casa. Devorei em uma sentada (tá bom, eu tava numa viagem de carro de 6 horas, então eu não tinha muita opção).