Mudanças, cabelos e boicote ao metaverso
#13 - quem nunca pintou o cabelo pra simular uma mudança de vida que atire a primeira pedra. (certamente não serei eu)
Oi, como você tá?
Acordamos em uma semana triste porque o novo campeão do BBB é o Arthur Aguiar, mas ao mesmo tempo mais feliz porque essa edição desastrosa chegou ao fim e Maíra Cardi vai voltar a falar apenas das baboseiras que já falava antes do programa. Ou assim esperamos. Ainda, é uma semana também feliz porque pintei o cabelo, e além de estar me sentindo uma verdadeira jovem com minhas madeixas cor-de-rosa (minha idade espiritual não corresponde à do meu corpo), estou navegando naquela sensação renovadora de ventos de mudança (ilusória) que só um cabelo novo consegue fornecer.
Mudar o cabelo não é novidade por aqui. O meu já foi descolorido, preto, ruivo, com luzes, repicado, desfiado, praticamente raspado, com franjinha, sem ela. Nunca tive muito apego; cabelo cresce, não é mesmo, e dá pra começar tudo de novo. Sempre brinco que, todas as vezes que sinto que preciso fazer algum tipo de mudança na vida, mudo o cabelo pra refletir meu estado de espírito. Eu brinco mas na verdade tô falando sério. O cabelo é uma entre um monte de pequenas coisas para as quais canalizo o impulso de, variavelmente, mudar, ou transformar, ou alinhar os chakras, ou botar a vida em ordem: montar uma playlist nova, reorganizar os livros na prateleira, comprar potes de acrílico pra organizar as comidas da despensa (alô, The Home Edit), fazer um detox com suco de couve. Sei lá.
Além do fator óbvio de que elas são muito mais realizáveis do que nossas mudanças internas, acho que também funcionam muito bem como catalisadores para elas. Apesar de aparentemente insignificantes, essas minúsculas alterações da ordem cotidiana parecem ter um poder esquisito de nos impulsionar em direção ao que realmente está nos inquietando, de nos movimentar de alguma forma, ou, ao menos, de nos sinalizar que um movimento precisa ser feito.
Agora, saber qual movimento é esse… bom, é outra história.
Mas acho que saber isso na ponta da língua não importa tanto assim. Eu acordei um dia da semana passada e resolvi que queria pintar o cabelo de rosa, e marquei sem pensar muito, assim como fiz tantas vezes nos últimos anos. Pra ser sincera, estava mesmo um pouco enjoada dele, mas talvez também um pouco enjoada de mim, e alterar a superfície é sempre uma saída imediata.
Esse assunto têm surgido em muitas conversas minhas ultimamente, nas que falo apenas comigo e nas que falo com outros seres humanos também, e me parece que é um surto coletivo. Não o cabelo rosa, digo. Esse ligeiro enjoo de nós mesmos. Passamos muito tempo em nossas próprias companhias nos últimos dois anos, e talvez tenhamos nos familiarizados com quem somos um pouco mais do que estávamos preparados. Agora, resta esse novo sentimento de saturação, uma estranheza. Como fazer caber esse eu, com quem convivi excessivamente dentro das paredes de casa, em um mundo que lentamente volta a ser algo parecido com o que era antes dessa convivência?
Não sei o que tá me saturando de mim aqui dentro ainda, mas gosto de estar inquieta. Gosto de estar atenta a esses sinais que me fazem olhar para dentro, para as coisas a que geralmente desviaria meus olhos. Sou meio bicho-do-mato, meio metódica, mas gosto das pequenas mudanças do lado de fora. Elas me dão um certo impulso para outras transformações, para outros cuidados comigo. Maiores. Dão um pouco de coragem também. E pensar que comecei esse texto falando de BBB e cabelo.
Fico pensando se algum dia mudar o cabelo do avatar do metaverso vai ter o mesmo efeito na gente. Mas todo e qualquer papo sobre metaverso está terminantemente proibido nessa newsletter, então não importa. Tejem avisados.
Um beijo,
Mari
Dicas Que Ninguém Pediu (Mas Que Eu Dou Mesmo Assim)
✦ Comecei Uma vida pequena, da Hanya Yanagihara, esse respeitoso calhamaço que estava na minha lista há tempos. O drama (avassalador, dizem) acompanha quatro amigos através de décadas de relações construídas, afetos, perdas e adversidades. Será que vou me derreter em lágrimas e ser destruída aos poucos? Sinto que sim. Fiquem ligados.
✦ Tô perturbada e a culpa é do filme We’re All Going to the World’s Fair, lançamento da diretora maravilhosa & não-binária Jane Schoenbrun. Ele acompanha a jovem Casey, que decide jogar um jogo online de terror e documentar as mudanças que vão acontecendo dentro de si. Não temos sustos, nem cenas muito gráficas, nem praticamente nenhum dos elementos que costumamos ver em filmes de terror - e, ainda assim, é de arrepiar tudo, garanto.
✦ Sexta fui conhecer o famoso Ici Brasserie, restaurante francês-contemporâneo moderninho com muitas opções de drinks e cervejas, do mesmo grupo do Astor, da Lanchonete da Cidade e de outros queridinhos de SP. Fábio pediu o clássico da casa, steak frites com molho de mostarda, e eu fui de linguine Brasserie - com creme de leite, parmesão, bacon, sálvia e ovo frito. Pratos incríveis e atendimento também! Recomendo também as croquetas de pupunha e brie pra beliscar :)
✦ Cheguei atrasada no hype da exposição da Adriana Varejão na Pinacoteca - Suturas, Fissuras, Ruínas -, mas cheguei. A expo conta com curadoria de Jochen Volz, fica em cartaz até agosto e reúne obras inéditas de toda a carreira da artista, que se destacou (entre inúmeros motivos) por explorar a bidimensionalidade da tela e trazer novas dimensões por meio das rachaduras na superfície, que são mega simbólicas. Tá imperdível mesmo - e o passeio à Pinacoteca sempre vale! De sábado é entrada gratuita ❤️
✦ Eu sou uma grande usuária do Spotify e poucas coisas me dão uma satisfação tão plena quanto encontrar uma playlist bem feita. Essa semana encontrei um perfil cheio delas: o do Tea at Shiloh, uma casa noturna de chás (sim!!!) em Los Angeles que já se tornou possivelmente o meu lugar dos sonhos pra visitar. (Enquanto isso não rola, sigo nas playlists, que são todas perfeitas. ♥)
E por hoje é só! :)
Te amo ❤️
Tenho essa mesma relação com meu cabelo! As mudanças podem vir sim de fora pra dentro ou de dentro pra fora - e eu acredito que mudar o cabelo tem sim um poder catalisador simbólico único. Vc já ouviu o Invisibilia? Este episódio aqui fala sobre isso e é perfeito: https://www.npr.org/programs/invisibilia/485606589/outside-in