Coragem e medo andam juntos
#18 - sobre todas as vezes que, apesar do frio na barriga, a gente só vai
Antes de começarmos, um pedido: será que você por gentileza poderia responder a essas perguntas sobre a news aqui? Tô pensando em novidades ❤
Oi, como você tá?
O período junino tem proporcionado, além dos comes e bebes imbatíveis (como voltar a viver sem uma caneca de quentão depois da janta?), reencontros gostosos, incluindo com uma prima-barra-amiga muito querida, que não via há tempos. Ela sempre foi uma grande referência para mim em muitos aspectos, e sair com um prato cheio de pensamentos quando a encontro já não é mais novidade. (Ainda bem - gosto assim!)
De qualquer forma, entre um copo de vinho quente e outro, ela me conta sobre um congresso no qual foi palestrar recentemente - e sobre o bom e velho conhecido frio na barriga, que a acompanhou teimosamente durante todo o tempo que antecedeu o evento. Apesar disso, sorri, realizada, o exato sorriso de quem pôde sentir o frio na barriga e seguir adiante mesmo assim, levando-o consigo.
Nos colocamos a falar, então, sobre frios na barriga de um modo geral, e enumero uma porção de coisas que me dão medo, coisas que, por esse mesmo exato motivo, tenho o péssimo costume de evitar no dia a dia. Dirigir, por exemplo - uma eterna pedra no meu sapato. Outra: conflitos. Chego a guardar um incômodo para mim mesma por meses a fio, ensaiando infinitas abordagens e nunca usando nenhuma, sempre com receio de encarar uma briga. Ela, por outro lado, já é mais briguenta. “Prefiro resolver os conflitos no ato”, diz, para que não carregue as angústias do que não podemos controlar consigo. (Errada não tá.)
“Eu gostaria de ter coragem para ser mais desse jeito”, digo, “falar o que preciso falar, lidar com os conflitos, sem medo do que pode vir depois.”
Ela, então, diz algo que eu já sabia, mas que esqueço com muita frequência: que coragem não é não ter medo - é, apesar do medo, decidir ir em frente.
Medo. Medo de rupturas, de mudanças, do desconhecido, do imprevisível, de uma porrada de coisas. Ele já me manteve carregando, convicta do fardo, um relacionamento tóxico por quase dois anos. Ele já me impediu de aceitar ofertas incríveis porém arriscadas de emprego. Me mantém calada em situações em que me sinto desrespeitada ou desvalorizada. Me impede, aos pedacinhos, de ser a melhor versão de mim, a versão que eu sei que existe, que está por aqui e que, apesar disso, não consigo acessar completamente. Estou sempre relembrando ou enumerando as coisas que já fiz ou deixei de fazer por medo, e me censuro por senti-lo. (Como se não sentíssemos todos.)
No fim das contas, o ponto não é exterminar o medo, nem eliminar os frios na barriga - é coexistir. É despi-los da sua função de amarra. É abraçar sua existência e levá-los com a gente, adiante.
Por isso, hoje, vou por uma rota diferente: olhar para todas as coisas que já fiz e conquistei apesar do medo. Olhar para o meu medo de dirigir, que existe e é muito real, mas que não me impede mais de treinar e evoluir no meu ritmo, nem de enxergar a minha própria evolução. Olhar para o meu medo de conflitos, que existe e é muito real, mas que já não me imobiliza diante da necessidade de compartilhar um incômodo na relação com as pessoas em que mais confio. Olhar para o meu medo da exposição, que, desde que comecei essa newsletter, já não me impede mais de explorar e colocar em palavras as minhas vulnerabilidades, que sempre lutei tanto para esconder.
Coragem é isso - ela caminha lado a lado com o medo.
Fica aqui a minha singela sugestão para todos os consagrados que chegaram ao fim desse texto: ao invés de começar mais uma semana enumerando todos os passos que ainda não demos por medo, que passemos mais tempo reconhecendo todos os passos que, apesar do medo, já demos. ❤
Um beijo,
Mari
Dicas Que Ninguém Pediu (Mas Que Eu Dou Mesmo Assim)
✦ O que tô terminando de ler hoje: Autobiografia do vermelho, da Anne Carson! Achando maravilhoso o mix de gêneros literários que a autora cria para fazer uma releitura nos tempos atuais do mito de Gerião, um monstro da mitologia grega, em uma moldura bastante melancólica das descobertas, traumas e paixões do protagonista - um jovem sensível e solitário que personifica o monstro.
✦ Finalmente criei coragem para colocar meu coração (e meus dutos lacrimais) à prova e terminar a última temporada de This Is Us, essa série maravilhosa que acompanha os ciclos, dores, alegrias, acasos, encontros e desencontros que moldam as vidas da icônica família Pearson através dos anos e das gerações. As temporadas estão todas no Star+! Confesso que ainda estou processando o meu estado de desidratação depois de passar pelas seis temporadas, mas olha, isso eu vou te dizer: não me apegava a personagens ficcionais desse jeito há muito tempo. Teremos uma edição da newsletter apenas para falar dela (quando eu souber o que dizer). ❤
✦ Podcasters de true crime, uni-vos! Comecei a ouvir o novo podcast da Folha, A mulher da casa abandonada, narrado pelo maravilhoso Chico Felitti - e já estou definitivamente viciada! O programa investiga a história de uma mulher misteriosa, que vive em uma mansão em ruínas no Higienópolis e, por trás da fachada, esconde uma acusação de um crime hediondo, cometido nos Estados Unidos há mais de vinte anos. Quem aí já tem teorias? Bora compartilhar 👀
✦ Recentemente, também fui conhecer o Hospedaria, restaurante na Mooca comandado pelo chef Fellipe Zanutto - que também é sócio da famosa A Pizza da Mooca. O restaurante, cujo carro-chefe é a cozinha de imigrante, é o lugar perfeito para comer uma comfort food maravilhosa e afetiva, com um menu repleto de receitas de família e um ambiente rústico e aconchegante.
Pedi um menu executivo completo: para entrada, escolhi o sandubinha de lagarto marinado no pão de leite (perfeitíssimo sim!!) e, para comer, a berinjela à parmegiana com macarrão ao sugo - o molho caseiro é impecável, daqueles que dá até um quentinho no coração. Para fechar, um bolo de coco gelado ma-ra-vi-lho-so de sobremesa ❤
Imagens para fazer vontade, como já é de costume:
E por hoje é só! :)
não tinha ideia do quanto eu precisava ler isso.
obrigada!!!!!!!