Somos românticos incuráveis?
#4 - uma dose de fraquezas - e outra bem grande de água com açúcar
E aí, somos? Não sei quanto a você, mas eu tenho estado inclinada a dizer que sou. (Inclusive: Oi, como você tá?)
Essa semana decidi fazer uma coisa inusitada (para os meus termos), vulgo: ler um romance água-com-açúcar. Como não conheço muito do gênero, pedi indicações e cheguei até a abençoada Emily Henry e seu gostosíssimo Beach Read, que não será o livro da semana por motivos de ainda só estar disponível em inglês - mas esse não é o ponto. O que quero dizer é que não consegui largar o dito cujo, não consegui desgrudar os olhos da trama tão simples do garota-encontra-garoto e só apaguei as luzes e fui dormir às três da manhã, depois de receber o meu merecido final feliz ao fim das páginas (não é bem um spoiler, convenhamos). E, honestamente, não me lembro da última vez que isso havia acontecido.
Em algum momento da minha existência neste planeta, eu estabeleci pra mim mesma que só deveria ler livros que pudessem ser o próximo Pullitzer ou Jabuti, ou que já o tenham sido em algum momento, ou, em outras palavras, obras com a famosa, abre aspas, relevância literária. Fecha aspas. Isso não costuma incluir romances fofos e finais felizes, motivo pelo qual nunca estão na minha estante ou na minha lista de leituras. Isso vale para o que eu escrevo também. Sim, bastante esnobismo da minha parte, você acha?
Mas foi só aí, ao fechar o Kindle na cabeceira da cama, umas lágrimas acumuladas no cantinho do olho (confesso), que me bateram as perguntas óbvias: por que eu me sinto tão frívola ao falar de finais felizes? Por que sinto que isso é tão irrelevante? E se eu simplesmente quiser lê-los - e mais, se eu quiser escrevê-los? E se eu estiver prestes a tropeçar na romântica incurável que existe dentro de mim?
E aí que, bem, não existe absolutamente nada me impedindo de abraçá-la, além da minha cabeça - como de costume.
Meu ponto, se é que esse raciocínio ainda está fazendo sentido, é que acho que essa minha mania de me restringir reflete uma angústia meio generalizada da gente: a aversão à mera possibilidade de toparmos com nossas fragilidades no meio do caminho, de dar vazão à sensibilidade, coisas que em algum momento viraram sinônimo de fracasso - e a gente disfarça com o famoso “pragmatismo”. E no meio dessa pressão inútil toda, talvez eu esteja desperdiçando uma grande energia criativa, a minha romântica-incurável interior que simplesmente quer colocar as mãozinhas para fora e falar de finais felizes de vez em quando, talvez vivê-los, talvez colocar umas doses de clichê no meio da vida. Ela faz parte de mim, faz parte de como vejo o mundo, e talvez eu simplesmente esteja cansada de colocá-la para fugir pela escada de emergência em nome de quem eu acho que deveria ser, mas não sou.
Como de costume, não tenho uma grande conclusão para oferecer (lamento). Mas essa newsletter surgiu como parte de todo esse movimento, de uma certa forma: escrever o que tá aqui dentro, independentemente do que seja, e que voe pelos ares a pressão para apenas tentar produzir coisas que tenham o potencial de mudar alguma coisa. Às vezes a gente só quer fazer parte da vida, mesmo - e apreciar umas doses de açúcar no meio do caos.
Acho que vou escolher o próximo romance da lista e pensar nos finais felizes que eu gostaria de colocar no (e tirar do) papel. Um pouco de clichês nunca fez mal a ninguém - na verdade, acho que deveria ser clinicamente recomendado de vez em quando.
Agora chega de devanear. Bora pegar um café que é hora de dicas!
Um beijo,
Mari
Dicas Que Ninguém Pediu (Mas Que Eu Dou Mesmo Assim)
📚 Livro da semana:
Animal, da jornalista americana Lisa Taddeo, que acabou de estrear traduzido no Brasil, foi a minha leitura dessa semana - e foi o que me levou a precisar de um romance leve e fofo na sequência, já te aviso.
A trama acompanha Joan, uma mulher traumatizada por feridas do passado, que passa por uma sequência de experiências violentas na mão de homens até chegar em sua gota d’água. É uma história sobre poder, controle, crueldade, raiva, mas acima de tudo sobre o que essa poderosa (e perigosa) combinação pode causar quando ferve dentro de uma mulher.
Joan é complexa: às vezes vítima, às vezes perpetradora da violência. E gosto de narrativas onde não há vítimas e vilões absolutos. Mas definitivamente não gosto do uso de gatilhos (já estejam avisados: aborto, estupro, suicídio e por aí vai) pelo puro propósito do choque ou do sensacionalismo. Não sei ainda se esse é o caso, estou digerindo, mas fiquei com essa impressão em alguns momentos. Foi uma experiência de leitura magnética, difícil de largar, mas ainda mais difícil de engolir - ainda assim, senti que deveria estar aqui, para quem quiser tirar suas próprias conclusões.
🎞 Filme da semana:
Licorice Pizza! Por favor, vamos espalhar a palavra de Paul Thomas Anderson por toda a eternidade. É a chave para uma humanidade renovada - bem, não posso afirmar, mas quanto a mim, com certeza saí renovada dessa experiência lindíssima nas telas.
Na Califórnia dos anos 70, o adolescente Gary Valentine (Cooper Hoffmann - sim, como em Philip Seymour Hoffmann!) conhece a jovem Alana Kane (Alana Haim - sim, da banda HAIM! você sabia que PTA e estas meninas são bffs na vida real?), e os dois desenvolvem uma amizade-barra-paixonite-platônica complicada pelos encontros e desencontros e pelos 10 anos de diferença que os separam.
Ainda: um combo maravilhoos de diálogos geniais, situações tragicômicas, uma cartela de cores impecável, lookinhos lindíssimos e um roteiro despretensiosamente perfeito, como só Paul Thomas Anderson conseguiria fazer.
(Vale lembrar que: Licorice Pizza está na corrida por 3 estatuetas do Oscar! Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Filme. Definitivamente tem minha torcida ❤️)
🎼 Som da semana:
Você já ouviu Beach House? Se não, pare tudo imediatamente e coloque para tocar antes de prosseguir. Sim, isso é uma ordem da profeta do indie.
A dupla americana, que tem um pé - ou talvez dois - no dream pop e no shoegaze, é uma das melhores coisas que aconteceu no cenário da música alternativa nos últimos anos (fontes: eu mesma e o resto do mundo). E o novo álbum, Once Twice Melody, foi basicamente a única coisa que ouvi a semana toda.
Recomendo: ouvir no silêncio da noite e se perder no arranjo sensacional e etéreo das músicas - praticamente uma viagem para fora da atmosfera ✨
☕ Rolê da semana:
Vocês perdoem a autora relapsa que vos fala, mas: essa semana foi INTENSA! Simplesmente não encontrei tempo nem forçar para reagir, botar um cropped e sair pra conhecer algum restaurante da minha extensa lista. A única coisa que fiz fora de casa, basicamente, foi trabalhar de um café aqui por perto, o que me fez lembrar do quanto eu amo a cultura das cafeterias ganhando cada vez mais força, ano após ano, em SP. Por isso, vamos ao que interessa, que é apenas o meu lugar favorito na cidade todo, vulgo: o Takko Café!
O Takko nasceu sob o nome de Beluga, na Vila Buarque, onde finca os pés até hoje - na rua Major Sertório, bem no coração do bairro. A atmosfera é super minimalista, e o cardápio conta com métodos variados de preparo de cafés com grãos especiais; para quem gosta de bebidas mais cremosas, recomendo sempre o cappuccino, que não tem erro (e quem não ama latte art nas fotos do instagram, né?); para quem prefere café puro, vá de coado do dia que também é sempre acerto.
O maior diferencial do Takko, além do café absolutamente perfeito, são as comidinhas: a equipe da cozinha está sempre testando novas receitas! Deixo aqui um registro da tortinha de goiaba fresca e goiabada que tive o i-men-so prazer de experimentar, da última vez que fui. Morra de vontade, ó:
🗒 Outros conteúdos que valem a pena na internet:
- Esse compilado incrível de reportagens, episódios de podcast e vídeos para entender a guerra entre Rússia e Ucrânia, feito pela Revista Gama. (Importante demais acessar alternativas à mídia tradicional pra se informar nesse momento - e a cobertura do Nexo sobre o tema, por exemplo, será de acesso livre a todos os visitantes no site)
- As newsletters das maravilhosas Carol (Vou te falar) e Alê Garattoni (Amo News), que além de não prometerem nada e entregarem absolutamente tudo, são mulheres que indicam e apoiam mulheres - e o quentinho no coração é real :)
- Essa receita de sorvete de doce de leite da Lena Mattar, que por motivos óbvios (vulgo: sorvete e doce de leite) figura aqui. Já quero!
- Quarteto. Você já jogou Wordle? Se sim, já vai estar bem familiarizado com esse jogo aqui! Todos os dias, são quatro palavras diferentes pra adivinhar em 9 tentativas. O único lado negativo é ter que esperar mais um dia para as palavras novas (eu agora).
E por hoje é só! :)
Adorei! Obrigada pela indicação, querida ❤️