Cansada, eu, nós, todos?
#5 - bolas de neve, disponibilidade emocional e o famoso "é sobre isso e tá tudo bem"
(pra ler ouvindo I’m so tired, do Fugazi)
Oi, como você tá?
Eu tô bem cansada. Não apenas: tô naquele limbo em que não conseguimos achar o botão de desliga mas que só ele resolveria alguma coisa. (Vocês lembram quando eu falei sobre deixar os pratinhos caírem nessa news aqui? Parece que estou falhando miseravelmente.)
Tô com dor na cervical. Nas têmporas. Bruxismo noturno. Colesterol alto (quem não). Precisando lembrar de piscar mais vezes pra lubrificar os olhos, que ardem na frente do notebook. (Lembrar. De. Piscar. Mais. É inacreditável.) Meu cabelo tá sem corte. Estou inchada. Minha pele tá terrível, como costuma ficar no verão, ou quando tô estressada, ou quando as duas coisas perigosamente acontecem ao mesmo tempo (agora). Qualquer roupa me deixa feia. Qualquer maquiagem borra. Qualquer comida me estufa e me cai mal. (O vinho, para a surpresa de ninguém, desce.) Tudo me dá ranço. Não tenho paciência para responder ninguém, para estar disponível. Simplesmente não consigo.
Algumas semanas tenho palavras mais otimistas pra botar aqui, em outras, menos (vulgo hoje), mas não muda o resultado final: eu tô bem cansada e tenho estado por um tempo. Agora talvez só seja o momento em que o corpo e a cabeça finalmente estão berrando, sua maluca, desacelera ou a gente vai desacelerar por você, na marra, e é isso. Talvez eu não esteja me sentindo disponível porque realmente não esteja, nem pra mim, talvez a bateria esteja no talo mesmo, ou um mix de tudo: a procura por desculpas no bolso pra desmarcar as coisas com os amigos, a ansiedade claustrofóbica que veio para ficar em ambientes lotados, o resultado de dois anos sem tirar férias batendo na porta, o exagero da bebida alcoólica como ferramenta de relaxamento, a necessidade irrefreável de constantemente responder a todos os estímulos desse caos hipermoderno (acho chic usar essa palavra), uma grande bola de neve que rola ladeira abaixo até bater aqui nestas costas que, como já disse, doem.
(Talvez tudo se conecte mesmo, até quando não quero.)
O ponto é: hoje não pretendo dar uma grande volta por cima, nem no texto, nem na vida. Pretendo só ficar cansada mesmo, curtir o cansaço e deixá-lo acontecer um pouco - esperar o café passar parada, quieta, silenciosa, ouvindo os chiados e estalidos da cafeteira, o cheiro que vai tomando conta do ar, ao invés de usar os dois-a-três minutos pra outra coisa. Fazer uma aula de dança, pelo simples fato de ser divertida, ao invés de me forçar a ir à musculação porque queima mais calorias. (Nem sei se é verdade.) Ou então não fazer nenhuma das duas. Não trocar o pijama por uma roupa-de-sair. Lagartixar no sofá. Rabiscar qualquer coisa ininteligível ao invés de escrever racionalmente. Ou nem rabiscar nada - apenas olhar para o teto, assimilar o ócio, deixar fluir qualquer coisa, preservar as energias.
A gente cansa. Parece óbvio, mas assimilamos como um demérito, um defeito de fabricação. Mas não somos feitos de aço inoxidável, e preciso mais do que nunca aprender a ouvir os sinais de sobrecarga da cabeça e do corpo. Precisamos. Talvez esteja na hora de parar de tentar sufocar o cansaço com um travesseiro. Do que adiantaria, afinal, se as noites são mal dormidas e a gente acorda com dor na coluna?
(Vocês podem perceber que estou com dor na coluna, certo? Obrigada.)
Um beijo,
Mari
Dicas Que Ninguém Pediu (Mas Que Eu Dou Mesmo Assim)
Livro da semana:
Nessa semana, seguindo a minha recém-descoberta aventura pelo universo das autoras best-sellers contemporâneas, chegamos - atrasadíssima - em Taylor Jenkins Reid. Mais precisamente, em Daisy Jones & The Six, que foi mais um daqueles de pegar e não largar. (Amo!)
A trama acompanha uma narradora quase que ausente enquanto sujeito, uma jornalista que investiga, por meio de um excelente compilado de relatos, a ascensão e queda da banda fictícia Daisy Jones & The Six, em meio ao caos glamouroso e terrível da Los Angeles dos anos 70. Apesar de ser completamente ficcional, me lembrou muito o “Mate-me por favor”, livro-reportagem de Legs McNeil que traça a história oral do punk a partir de depoimentos de ícones como Iggy Pop e Joey Ramone - e isso já diz muito. Os personagens são tais quais uma banda de rock: apaixonantes, intensos, imprevisíveis, impulsivos.
A coletânea de letras da banda ao final é um toque que fez toda a diferença. Gostaria que Daisy Jones e a banda dos seis tivessem existido na mesma realidade que a minha, para que pudesse ouvi-los além de lê-los. Bom demais ♡
Filme da semana:
Uhmm, você disse… Batman? Sim, esse momento chegou e eu estava lá, feito a grande tiete de Robert Pattinson que sempre fui, na pré-estreia. Fui pelo ator, confesso, mas fiquei também pelo filme, que restaurou a minha fé nas franquias de super-heróis, um nicho de filmes que particularmente detesto. Gosto demais desse Batman (ainda mais) emo e taciturno, desprovido do glamour e dos seus dispositivos tecnológicos, procurando por pistas em cartas e papéis como um típico detetive. Gosto da Gotham construída pelo diretor Matt Reeves, a mais sombria e corrupta até agora, ao meu ver. Gosto muito do Charada de Paul Dano e da Selina Kyle de Zoë Kravitz (ou: a mulher mais bonita de Hollywood). As escolhas de elenco foram muito acertadas e a sinergia é perceptível. A trilha sonora, assinada por Michael Giacchino, é uma experiência à parte, que contribui (e muito) para a atmosfera lúgubre do filme.
(Se, ainda assim, você não gostar da experiência cinematográfica, te garanto que as quase 3 horas de Robert Pattinson na tela tranquilamente já valerão o seu ingresso. Vai na fé.)
Som da semana:
Nesta semana de caos profundo, me curei ouvindo um dos álbuns favoritos da vida: Carrie & Lowell, do maravilhoso Sufjan Stevens (para quem já assistiu Call Me By Your Name, um dos filmes que mais amo no mundo, talvez ele seja bem conhecido!). Existem poucas coisas que mexem comigo como esse álbum - um conjunto de folk belíssimo e melancólico, repleto de referências autobiográficas sobre família, abandono, solidão, luto, fé e muitos outros elementos que tocam lá no fundo, mesmo quando escutamos despretensiosamente.
Me frustra o fato de não conseguir colocar apropriadamente em palavras o que Carrie & Lowell me faz sentir, mas acho bom registrar isso aqui. Tire suas próprias conclusões - eu juro que vai valer a pena. ♡
Rolê da semana:
O dois por um atacou novamente por aqui e, no sábado, Fábio e eu fomos conhecer o QT Pizza Bar, nos Jardins, que tem um cardápio todinho de pizzas napolitanas e drinks com toque autoral. O ambiente tem uma decoração moderninha, mas fica aconchegante com o clima à meia-luz e as ótimas playlists que rolam no som (essa parte é importante).
Para beber, fomos de Red Basil Sparkling (vinho branco, pêssego, morango, manjericão e espumante) e de Hot Me (vodka com hibisco, camomila, abacaxi, mix de cítricos e hortelã), e estão os dois aprovadíssimos. Para comer, experimentamos as pizzas Calabresa (que de básica não tem nada: com aioli, molho de tomate, cebola caramelizada e couve frita) e a Catu (molho de tomate, catupiry, pepperoni e pesto de manjericão). Satisfeitos demais com o date gastronômico da semana!
Imagens, como sempre, para fazer inveja:
Outros conteúdos que valem a pena na internet:
- Edição dá Tá Todo Mundo Tentando, da Gaía Passarelli, que me pegou bem no que foi esse carnaval: “Entendi que vai pro baile quem quer, é feliz quem pode, vida que segue. E eu não quero.”
- As tirinhas da Sirlanney, impecáveis!
- A coluna desta semana da Vera Iaconelli para a Folha, “Moleques no poder”, que endereça (entre outras coisas) a tristeza que é ter um pré-candidato ao governo estadual que se auto-intitula Mamãe Falei e, como se isso não fosse suficiente, que nos presenteou com uma justificativa - à guisa de retratação - grotesca e misógina sobre as suas falas imperdoáveis dos últimos dias. Importante demais ler sobre.
E por hoje é só! :)
Não encontro a palavra que gostaria para elogiar o texto. Vai ver isso também é fruto de um cansaço que pra ser vivido, precisa de um pouco mais de silêncio mesmo. Obrigada, Mariana.
Cansada demais do lado de cá pra elaborar um comentário à altura do texto, mas: sinta-se abraçada e obrigada pela vulnerabilidade. Vamos juntas. :)