Um corpo que é casa
#7 - articulações, transitoriedades e pequenos momentos de autoapreciação
Oi, como você tá?
Eu tenho pensado muito sobre corpo. O meu, no caso. Não de um forma obsessiva ou autodepreciativa, mas também sem uma admiração plena. Sei lá. Só de um jeito diferente. Um pouco mais compassivo, mais atento, menos angustiado. Um pouco mais aberto. (Ao quê, ainda não sabemos.)
Nessa semana, dei um pulinho não-muito-planejado na praia - e foi a primeira vez em anos que consegui colocar um biquíni e me sentir totalmente confortável pra me movimentar e existir ali na areia, torrar no sol, mergulhar no mar. Da última vez que havia ido à praia, em setembro do ano passado, estava com um grupo de amigos e me lembro nitidamente da sensação de completo desconforto em todos os minutos que meu corpo ficou exposto, mesmo na segurança de companhias conhecidas. Troquei de biquíni inúmeras vezes ao longo do dia. Chorei sozinha no banheiro. Me privei de ver o mar. Fui embora, no final da viagem, em um estado quase que catatônico de angústia.
Ah! E vale lembrar (ou informar, no caso de todos vocês que não tinham a obrigação de saber este fato): eu tinha acabado de completar 10kg perdidos na balança, desde o começo de 2021 (a custo de uma rotina insustentável de treinos, dietas low-carb, jejum intermitente e, claro, um shot diário de cúrcuma com muita cobrança!), e topei botar meu próprio corpo em um biquíni porque, no conforto (mas nem tão confortável assim) da minha própria vista, achei que estava no auge da minha autoestima - que desmoronou completamente quando me senti exposta aos olhos dos outros.
Esses dias também vi umas fotos minhas de uma viagem de 2018 em que provavelmente tinha, também, 10kg a menos do que hoje, mas me lembro da mesma sensação nítida de estar inadequada em todas as roupas que coloquei. De lá pra cá, resumidamente, passamos por uma janela de mais de 20kg na balança: meu corpo sempre foi uma montanha-russa nesse aspecto, e sempre o tratei com uma agressividade à altura, me privando da comida ou comendo em excesso, levando meu corpo ao limite ou caindo no sedentarismo, jamais confortável em encarar o espelho - mas sempre me odiando e me punindo por isso. Às vezes, em meio a essas flutuações, tenho dificuldade em me reconhecer.
Acho que, acima de tudo, tenho pensado nisso: em como o conforto na própria pele é algo que demanda um esforço constante, e que está (acho) muito atrelado a compreender o corpo como algo que, obviamente, não está escrito em pedra - é mutável e passível de transformações, como todo o resto nessa vida. E é esse meu corpo transitório (tal qual todos) que me leva às viagens, que me permite mergulhar no mar e sujar a pele de areia, que recebe e entrega muitos afetos, que chora e gargalha na mesma intensidade, e vai seguir sendo assim. Dani Arrais disse num post essa semana algo que me marcou bastante: lembre-se de apreciar o corpo que você tem agora - porque, bem, ele é o de agora, e é ele que importa.
Acho que aprender a apreciar o corpo dessa forma, como morada das nossas experiências, como registro delas, com suas marcas e mudanças, é o que realmente conecta nossos fios nessa doideira que é ocupar um espaço no mundo. Eu espero continuar fazendo novas marcas e transformações nessa casa que me carrega por aí, e registrá-las aqui com vocês. ♡✨
Um beijo,
Mari
Dicas Que Ninguém Pediu (Mas Que Eu Dou Mesmo Assim)
Livro da semana:
Gente, é isso: estou apaixonada por Pachinko, da abençoada autora coreana Min Jin Lee, e acho que não vou me recuperar tão cedo! (Ainda bem, gosto de livro assim, que dá uma rasteira daquelas bem dadas.)
A narrativa se inicia com Sunja, uma jovem que vive com a família na região costeira da Coreia no início dos anos 1900 e, ao engravidar de um poderoso homem japonês casado, se recusa a ser comprada pela perspectiva do sustento e decide deixar seu país de origem rumo ao Japão, na companhia de um pastor que a pede em casamento para salvá-la da desonra de ser uma mãe solteira.
A sua decisão dá início a uma sequência de acontecimentos que vão traçar o destino de três gerações de sua família, agora imigrante e indesejada, em um Japão extremamente violento e discriminatório com coreanos. Os salões de “pachinko”, um jogo de azar popular no Japão, são uma fonte de sustento e também força que movimenta as vidas individuais dos membros da família, suas angústias e ambições, de formas diferentes - mas sempre conectadas pela ânsia da pátria e de uma identidade que foi se fragmentando pelo caminho. Pra quem se interessa por romances históricos, Pachinko é um prato cheio, riquíssimo em detalhes - e pra quem curte mais a ficção em si, também é! Me apeguei demais a cada personagem dessa família tão complexa e senti na leitura a força das relações que criaram através dos anos.
Tô naquela ressaca literária braba, mas gosto de curtir a fossa pós-livros bons, então tá tudo certo. Se você já tiver lido, me conta o que achou! :)
Filme da semana:
O que seria melhor do que Julianne Moore na discoteca bebendo bons drinks e botando homens no chinelo? Eu certamente não consigo pensar em nada. Por isso, fica aqui a recomendação de Gloria Bell, filminho gostoso demais do Sebastián Lelio, mesmo diretor do famoso Desobediência. (Sim, aquele com as duas Rachels - McAdams e Weisz.)
A trama acompanha Gloria, uma mulher divorciada e dona de um espírito livríssimo, acostumada à sua própria independência e vida solo. Ao encontrar um novo amor, ela se vê com o desafio de balancear o desejo de recomeçar com as bagagens afetivas e familiares que nos acompanham. Daqueles que a gente coloca pra assistir com uma taça de vinho e um escalda-pés. (Talvez muito específico? Talvez, mas esse é o mood.)
Som da semana:
Nessa semana meio reflexiva, voltei para as minhas raízes e ouvi em looping infinito o que é provavelmente o meu álbum favorito da vida (junto com Revolver, dos Beatles, que fica pra outro dia): Grace, do absolutamente maravilhoso Jeff Buckley. Foi o único álbum de estúdio oficial lançado por ele em vida, é lindíssimo, melancólico e inspirador, e só posso dizer que é um bálsamo para dias difíceis (e para os fáceis também).
(Ah, e também tem uma versão - para mim, a favorita - da famosa Hallelujah, que, para quem não lembra de cabeça, é a música que toca no casamento da princesa Fiona com o lorde baixinho no Shrek. De nada.)
Rolê da semana:
Dia desses, resolvi me levar pra passear sozinha e fui conhecer o adorável Astronauta Café, na Vila Mariana! Ótima trilha sonora, decoração fofíssima, cheia de sofás e plantinhas, impossível não se sentir em casa. Levei meu livro pra me acompanhar e passei uma tarde inteirinha por lá.
O menu é lotado de cafés maravilhosos, doces irresistíveis com fornadas programadas para horários específicos do dia (enquanto estava lá, saiu a do rolinho de canela, e olha… se a vida pudesse ter um cheiro só, seria aquele), alguns drinks autorais e até mesmo uma lojinha pra levar uma parte do café pra casa - filtros, canecas e geleias são algumas das opções. Eu optei por um espresso tônica bem gelado (a-mo!) e acabei não resistindo ao folhado de maçã com sorvete de cumaru - ainda bem, porque estava maravilhoso.
Pois bem, vocês já sabem que só trabalho com imagens:
Outros conteúdos que valem a pena na internet:
Mulheres e relacionamentos abusivos, episódio que tá incrível do podcast 451 MHz;
E aproveitando pra fazer meu jabá, a Web Story assinada por moi que saiu lá na Revista Trip (chique!), sobre 5 discos clássicos da MPB que fazem 50 anos em 2022.
E por hoje é só! :)
Não sei se sabe, mas Pachinko virou série e estreia agora dia 25 de março :)
Espero a semana inteira por uma nova segunda e um novo texto seu! Você arrasa nas palavras, e nos tapas na cara ❤️