Oi, como você tá?
Eu tô com a saúde meio debilitada (e a cabecinha cheia). Não vou entrar em detalhes clínicos pois ninguém quer ler isso (existem médicos aqui neste modesto quórum?), mas digamos que tem envolvido uma enorme quantidade de dores pélvicas e, até o presente momento, nenhuma conclusão sobre o diagnóstico. Enfim. Isso não vem ao caso, apesar de eu ter escolhido começar o texto com este assunto.
O que vem ao caso é que, mesmo consciente da fragilidade do meu corpo, eu continuo insistindo em empurrá-lo ladeira abaixo. Ou, melhor, ladeira acima, rumo às esteiras e aos aparelhos de musculação da academia, quando na verdade ele queria mesmo era rolar numa descida e cair diretamente em uma superfície acolchoada.
Já falei aqui em outros momentos sobre a minha relação (e não é a de nós todos?) conturbada com meu próprio corpo, mas tenho pensado que essa minha insistência em levá-lo ao limite não tem a ver apenas com isso. Acho que é um pouco maior do que a minha imagem corporal, um pouco maior do que uma ilusão de estar compensando calorias quando me forço a estar na academia em um dia que realmente queria estar em qualquer lugar menos lá. Acho que tem mais a ver com o meu próprio sistema (rigorosíssimo) de autocobranças, que se estende para além do corpo - e que uso para tentar me manter, da superfície para fora, em um nível constante de alta performance em todos os aspectos possíveis.
(Da superfície para dentro, é outra história.)
Nessa busca por um equilíbrio supremo, às vezes me sinto mais vazia do que nunca, reproduzindo uma rotina cuidadosamente planejada com refeições regradas, treinos intensos, colágeno em pó, comprimidos de vitamina D, lembretes para beber água páginas matinais tempo de tela reduzido aplicativo de meditação, quando na verdade tem dias que eu só queria deitar na cama às sete da noite com um miojo da Turma da Mônica e vídeos infinitos do TikTok rolando no celular até dormir. E, nos últimos tempos, tem surgido uma vozinha no fundo da cabeça, que ainda me escapa algumas vezes, mas está lá: E por que você não faz o que tem vontade, criatura?
Entendo (e obviamente endosso!) a necessidade de abrirmos espaço para bons hábitos físicos, mentais e espirituais na rotina, mas às vezes também fico pensando se não estamos também correndo o perigo de entrar (ou já entramos?) em um surto coletivo de obsessão com a disciplina do bem-estar, que, no fim das contas, me parece mais uma forma de controlar o que pode estar no controle e abafar as angústias pelo que não pode estar. (O que, em minha singela opinião, é um erro terrível.) Por que não deixar estar também as sensações ruins, os dias de marasmo, os momentos de inércia, a ansiedade, quando eles pedem por um momento para existir? Por que não senti-los em sua totalidade, aprender com eles, normalizar o mal-estar que também faz parte de estar vivo?
Talvez seja hora de abaixar um pouco a barra - e conceder a mim mesma a permissão de ser desequilibrada de vez em quando. Talvez, de vez em quando, eu só queira fazer levantamento de garrafas de chardonnay aqui do meu sofá mesmo. (E talvez eu faça.)
Um beijo,
Mari
Dicas Que Ninguém Pediu (Mas Que Eu Dou Mesmo Assim)
(E vocês me perdoem, mas talvez a seção ‘Rolê da semana’ seja suspensa por tempo indeterminado porque tenho estado cansada demais e sem-tempo-irmão pra conhecer novos lugares legais. Vida real que fala né? rs)
Livro da semana:
Agora Veja Então, da Jamaica Kincaid! Ainda não terminei, confesso, porque essa semana foi uma loucura só e (até pra mim) sobrou pouco tempo para leituras, mas estou gostando bastante.
A autora americana-caribenha narra o desmoronamento de uma família a partir da separação de Sr. e Sra. Sweet, que vivem um casamento odioso por anos a fio até que o patriarca abandona a esposa por uma mulher mais jovem. É a partir desse evento que observamos as perspectivas de todos os envolvidos tentando processar o evento e reconstruir seus próprios lugares dentro da dinâmica familiar.
O livro é escrito todo em fluxo de consciência, alternando entre os personagens, o que pode ficar um pouco cansativo em alguns momentos - mas insista que vale a pena! Fiquei bem envolvida, principalmente com a personagem da esposa/mãe, e já quero conhecer outras obras da autora. Se já tiverem lido, me recomendem 🖤
Filme da semana:
Os Olhos de Tammy Faye, um dos poucos filmes que não consegui assistir a tempo para a cerimônia do Oscar - mas que, obviamente, passou para o topo da lista depois da estatueta de Jessica Chastain (uma visão DOS CÉUS, convenhamos).
A trama acompanha a ascensão, queda e redenção de Tammy Faye Bakker (Chastain), que, junto do marido Jim Bakker (Andrew Garfield), nas décadas de 70 e 80, deu vida à maior rede de televisão religiosa do mundo. Apesar de a temática não me interessar muito, a Jessica Chastain realmente entregou tudo nessa performance e fez cada minuto valer a pena. A maquiagem e o figurino, que também levaram o Oscar, estão absolutamente impecáveis.
Não conhecia nada sobre os Bakker e seu império, mas foi fácil de se deixar cativar pela sua Tammy Faye. Quanto ao seu ex-marido, ainda hoje fraudador condenado, lunático religioso e (sem novidades) homem tóxico, vamos dispensar comentários, certo? Certo.
Som da semana:
Revolver, dos Beatles, ou então: meu álbum favorito de todos os tempos, com título vitalício. (Sério.) Tenho ouvido muitos sons dos anos 60/70, mas sempre acabo voltando para ele em algum momento do dia.
Não creio que minha modesta opinião tenha algo a acrescentar que já não tenha sido dito sobre essa obra de arte, que uniu na medida certa o que cada um dos quatro trazia de melhor ao conjunto musical (e com um leve excesso de George Harrison, o que, convenhamos, nunca poderia ser demais), mas acho que resenhar não era a minha intenção hoje. Só deixo aqui minha recomendação de comfort music suprema. :’)
Outros conteúdos que valem a pena na internet:
Novamente um leve jabazinho com a entrevista que fiz com a Monica Iozzi para a Revista TPM - o papo tá incrível, prometo!
Essa resenha da revista Gama sobre o novo romance da musa distópica Margaret Atwood, “O Coração é o Último a Morrer” - já comprei o meu, ein, em breve vem aí!
O novo episódio do podcast Cinemático, que discutiu nada mais, nada menos do que ‘The Worst Person in the World’, vulgo o MELHOR filme que assisti em 2022 - digo isso com segurança mesmo estando em abril. Fim.
E por hoje é só! :)